Criar um refúgio de segurança, tanto na casa antiga, como na casa nova, apostar no uso de feromonas e não deixar o gato numa divisão vazia são algumas das estratégias para não traumatizar o seu gato durante a mudança. E já agora, a casa nova tem quintal? Então atenção às primeiras saídas à rua.
Com Gonçalo da Graça Pereira
Médico veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental
Quem já passou por uma mudança de casa sabe que este é um processo complexo, desgastante e que implica a tomada de muitas decisões: será que consigo fazer a mudança sozinho, peço ajuda a amigos ou contrato uma empresa para resolver o assunto? O que devo levar, doar ou vender? Mas como é possível acumular tanto, será que a mudança nunca mais acaba?
Enquanto está imerso nestes pensamentos e a desejar que tudo termine o mais rapidamente possível, há um pequeno ser assustado a olhar para caixas e caixotes empilhados em todas as divisões da casa e móveis a serem arrastados e desmontados: o seu gato.
E quer estejamos a falar de um animal mais sociável ou mais ansioso, acredite que qualquer mudança no seu território vai afetá-lo. Mas o que fazer para tornar o processo menos traumatizante?
Crie uma zona de segurança
“Comece por criar um refúgio, ou seja, uma zona de segurança para o seu gato na casa antiga, que tanto pode ser a última divisão a esvaziar, uma simples caixa ou até um armário no qual se possa esconder caso de assuste”, aconselha Gonçalo da Graça Pereira, médico veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental. “Numa situação de maior medo, alguns gatos escondem-se num esconderijo, outros se estiverem no quarto já ficam mais tranquilos. Vai depender de gato para gato”.
Outro aspeto importante é o uso de feromonas (hormonas que estimulam o bem-estar do gato) tanto na casa antiga, como na casa nova. Existem difusores elétricos que emitem feromonas num raio de 50 m2 e que “ajudam o gato a sentir emoções positivas. Já na casa nova, deve ligar o difusor 2 a 3 dias antes do gato chegar”, aconselha o médico veterinário.
Também pode ser adequado “começar a fazer um suplemento alimentar e, em gatos mais stressados, pode fazer sentido alguma medicação ansiolítica, que deve ser analisada caso a caso com o médico veterinário assistente. Existem ainda dietas suplementadas com alguns nutrientes e que devem começar a ser feitas 2 a 3 semanas antes da mudança, para ajudar a aumentar a produção de serotonina no gato, que vai sentir-se mais relaxado.”
Primeiro ou último a sair?
Na opinião do médico veterinário, tudo vai depender das situações. “Enquanto conseguir ter o gato na zona de segurança, para garantir que não há uma porta aberta pela qual possa fugir, pode ficar na casa antiga. Já na casa nova, o melhor é mantê-lo fechado numa única divisão do que deixá-lo à solta. Isto para que possa depositar calmamente os seus odores e as suas hormonas nesta divisão e, aos poucos, ter acesso ao resto da casa”, aconselha Gonçalo da Graça Pereira.
“Os gatos vivem num mundo de odores e todas as mudanças de cheiros podem ser complicadas. Não se esqueça de levar para o novo refúgio a sua cama, a sua almofada ou a sua manta, ou seja, tudo o que já tenha o odor da casa antiga, pois vai ajudar o gato a sentir-se equilibrado mais rapidamente.”
Como preparar o refúgio na casa nova
Numa mudança, esta é a única altura em que deve reunir todos os recursos do gato no mesmo local de refúgio: cama, comida, água e areão. “É uma exceção pois sabemos que, no dia a dia, o gato tem territórios diferentes para comer, beber, dormir e defecar, ou seja, não come onde defeca, mas visto ser um território novo, que lhe provoca medo, deve ter tudo mais próximo e ir afastando estes recursos gradualmente.”
E se está a perguntar quanto tempo o gato deve ficar confinado à divisão de segurança, Gonçalo da Graça Pereira diz que depende. “Há gatos que numa semana ficam mais confiantes, outros que precisam de um mês, mas vai perceber pela linguagem do gato quando chega a casa. Se já não se esconde, se o vem receber à porta da divisão onde está e se começa a mostrar mais confiança, essa é a altura em que deve deixar a porta aberta e, gradualmente, o gato irá inspecionar o resto da casa. Mas nunca deixe todas as portas abertas, pois é pior na perspetiva do gato. Opte antes por saídas graduais.”
Atenção à festa de inauguração
Lembre-se que esta é uma fase de adaptação para o seu gato, pelo que barulhos novos aos quais não está habituado, cães e gatos nas redondezas ou até a festa de inauguração da casa nova podem causar stresse. “Se planear uma festa, convém não esquecer que deve ter o gato protegido na sua zona de segurança, pois são vários motivos de stresse ao mesmo tempo”, lembra o médico veterinário.
E a casa nova tem quintal ou acesso à rua? “Se o gato já está habituado a ir ao exterior, nos primeiros tempos não o deixe sair logo à rua pois pode assustar-se. O gato precisa de saber reconhecer o seu novo território, onde tem comida, descanso e tudo o que precisa. Só depois pode começar a sair à rua gradualmente.”
- Gatos séniores? Faça isto
- Certifique-se que o gato acede facilmente ao seu refúgio de segurança. Se for muito alto, coloque uma escada ou uma cadeira que facilite o acesso.
- Aposte em luzes de presença, para evitar que se desoriente à noite na casa nova. “Há a ideia de que os gatos conseguem ver muito bem à noite e, na verdade, têm melhor visão do que os humanos, mas um gato sénior pode desorientar-se pela casa. Deixar uma luz de presença vai dar uma ajuda”.
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Tem vários gatos? Saiba se devem ficar juntos ou separados
Na mudança para a casa nova, a presença de vários gatos no mesmo refúgio vai depender do grupo social que estiver estabelecido. “Se os gatos fizerem parte do mesmo grupo social – se se lamberem um ao outro e se se roçarem um no outro – podem ficar juntos na divisão de segurança para dar apoio mútuo. Caso contrário é preferível ficarem separados”, explica Gonçalo da Graça Pereira.
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