Se o seu gato não gosta de mimos ou de ficar enroscado ao seu colo, se o ignora dia e noite e se é a personificação do espírito independente felino, um especialista em comportamento animal ensina como pode estabelecer um elo emocional.

Com Gonçalo da Graça Pereira
Médico Veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental
 

“Entre os gatos há determinados comportamentos denominados afiliativos e que estabelecem quais são os gatos do mesmo grupo social”, começa por explicar o médico veterinário Gonçalo da Graça Pereira.

Segundo o especialista em comportamento animal, “estamos a falar de grooming (lamberem-se uns aos outros), dar turras entre si ou roçarem-se uns nos outros. E muitas vezes estes comportamentos também são dirigidos aos humanos. Tudo isto são sinais que indicam que está a ser criada uma ligação com tutor”. Mas para que isto aconteça é necessário que siga várias regras. Tome nota.

 

Dica n.º 1: Aprenda “gatês”

“A primeira coisa a fazer é saber reconhecer o que o gato está a querer transmitir com a sua linguagem corporal. E neste campo ainda existem muitas lacunas. As pessoas ainda têm um grande desconhecimento sobre o significado desses sinais, pelo que antes de adotar um gato é importante estudar um pouco mais sobre o seu comportamento”, indica Gonçalo da Graça Pereira. Aprenda a reconhecer alguns sinais do gato e perceber se está a brincar ou se já não está a gostar da brincadeira.

Dica n.º 2: Respeite o gato

Depois é importante respeitar o seu companheiro felino. “Um sinal que indica que o gato está a criar um elo emocional com o tutor é quando se aproxima da cama para dormirem juntos”, indica o médico veterinário.

No entanto, esta confiança pode acabar por ser quebrada pois, quando se aproxima, “não significa que queira ser tocado ou que deseje receber festas. Muitas vezes interpretamos que o gato, quando se aproxima, quer ser tocado, mas isso pode não acontecer e há que respeitar. Caso contrário, o gato pode morder ou arranhar. Há muitos motivos para se aproximar: pode apenas querer estar junto da pessoa, mas não ser tocado. Cada gato é um gato”.

E já lhe aconteceu receber em casa a visita de um amigo que não gosta particularmente de gatos, mas que o seu gato insiste em passar a noite perto dessa pessoa? Gonçalo da Graça Pereira explica porquê: “É exatamente por não gostar de gatos que a pessoa vai respeitar o seu espaço. Não interage, nem interfere com ele e, muitas vezes, o gato sente-se melhor perto dessa pessoa”.

festas na barriga do gato

Dica n.º 3: Festas na barriga? Nunca!

Outro momento em que o elo emocional com o gato pode ser quebrado é logo pela manhã, ou quando o tutor chega a casa, e o gato se aproxima com a cauda esticada e a ponta dobrada, e se deita no chão a rebolar e a expor a barriga.

“Muitas pessoas entendem esse comportamento como um pedido para receber festas na barriga, mas a interpretação não pode estar mais errada. Ele não está a pedir festas, mas a cumprimentar o tutor de forma tão confiante que expõe uma parte do corpo vulnerável. Ao tocar-lhe na barriga vai quebrar essa ligação e pode acabar mordido ou arranhado”, indica o especialista em comportamento animal.

“Expor a barriga é um sinal que indica que o gato está a dizer ‘eu confio em ti’, mas depois quebramos esse laço quando lhes tocamos. Se quiser fazer-lhe uma festa, mais vale acariciar o queixo ou as bochechas”, zonas completamente seguras e que ele certamente vai gostar.

 

Dica n.º 4: Conquiste-o pela barriga

Existe uma interação positiva, associada a momentos bons, com o ritual de preparação da comida. Aproveite o momento em que lhe prepara o seu petisco preferido para aprofundar o elo emocional com o seu gato. “Só o facto de lhe estar a preparar a comida já está a criar um elo de ligação”, explica o médico veterinário.

“Pode tirar partido dessa conexão quando o escovar. Faça assim: tenha por perto a comida que ele mais gosta, para associar o momento a algo positivo. Isto porque os gatos não gostam se ser escovados, já que a sua pele é sensível, e têm de aprender a gostar, para não terem de ser forçados, o que dificulta a vida ao tutor. Há pessoas que desistem e depois, cada vez que o gato tem de ser escovado é uma luta.”

 

Dica n.º 5: Ensine-lhe truques

“As pessoas esquecem-se que os gatos também podem ser treinados, tal como acontece com os cães”, explica Gonçalo da Graça Pereira. “É muito interessante pois, se o gato se for treinado usando um método de reforço positivo e regras claras, o que conseguimos é uma motivação muito grande, um momento de interação positivo e o aprofundamento do elo emocional”.

 

E é verdade que há sempre um tutor preferido?

Sim, é verdade. O gato tende a mostrar uma preferência por um dos tutores, “ou porque brinca mais, ou porque dá comida mais apetitosa. Há muitos motivos para que tal aconteça, pois pode haver diferenças de comportamento numa casa”.

Por isso, se quer aprofundar o elo emocional com o seu gato, comece por estas 5 dicas e tenha muita paciência. Aos poucos irão ficando mais próximos.