À semelhança do que acontece connosco, os nossos animais também envelhecem. No entanto, agora, graças aos avanços na medicina veterinária, conseguimos tê-los ao nosso lado durante muito mais tempo.
E neste processo, é natural que os seus dias lhes tragam cada vez mais desafios, pelo que a dedicação e o devido acompanhamento fazem toda a diferença, e têm garantidamente um grande impacto no seu bem-estar geral.
Sabemos bem que os nossos cães velhotes são absolutamente valiosos e que merecem ser recompensados com todo o conforto, carinho e felicidade. Por isso, vamos dar-lhes nada menos que o nosso melhor, começando pelos cuidados essenciais para esta fase tão especial!
A partir de que idade o meu cão é considerado sénior?
Talvez uma das dúvidas mais comuns, mas para a qual não existe uma resposta totalmente absoluta.
A sua inclusão na “terceira idade” não obedece a um único critério, variando de acordo com o tamanho, o peso e/ou a condição corporal. Para além disso, alguns cães tendem a envelhecer mais rapidamente que outros, pelo que há que ter em conta também fatores como a sua base genética e o seu estado de saúde global.
De uma forma geral, um animal sénior é aquele cuja esperança média de vida se aproxima dos 25%. O que na prática significa que os cães de raças grandes ou gigantes tendem a viver menos, pelo que normalmente são considerados seniores a partir dos 5-6 anos de idade. Para os de raças médias, assumem-se os 8-9 anos de idade. Já os de raças miniaturas e pequenas têm longevidades superiores, tomando os 10 anos como idade de transição.
Quais os sinais de envelhecimento mais comuns?
Uma das alterações mais significativas nesta fase e notória para a grande maioria dos tutores é a diminuição da atividade geral.
É comum percebermos que os nossos cães velhotes têm cada vez menos resistência ao exercício físico, maior dificuldade em levantar-se da cama, alguma relutância em subir/descer escadas e menor entusiasmo com jogos, brinquedos e/ou comida.
Muitos deles começam também a demonstrar menor paciência perante certas situações, como estar perto de crianças mais ativas e pessoas barulhentas, além de outros cães mais agitados. Por vezes, até os notamos mesmo confusos, desorientados ou menos responsivos que outrora. E não tão raramente, podem surgir os primeiros “acidentes” em casa, associados a incontinência urinária e/ou fecal.
Alguns apresentam ainda, inclusivamente, mudanças substanciais nos padrões de sono e vocalizações excessivas, que podem facilmente tornar-se menos agradáveis não só para nós, tutores, devido à sua frequência e hora de ocorrência, como também para familiares e vizinhos.
Muitas destas alterações fazem parte do normal processo de envelhecimento, mas em certos casos podem estar associadas a patologias específicas, sendo por isso absolutamente fundamental mantermos um acompanhamento constante junto da nossa equipa médico-veterinária de confiança.
Há algo que possa fazer para “atrasar” esses sinais?
Mesmo com as melhores intenções, muitos de nós descobrimos que o nosso cão sénior já não está tão envolvido na vida familiar como antes. Seja porque o cão que antigamente adorava longas caminhadas já não está capaz de nos acompanhar devido a problemas articulares ou neurológicos, ou porque outras condições de saúde o impossibilitam de passar tanto tempo perto de nós, dos seus humanos.
Muitas vezes, acreditamos que a companhia de um novo cachorro será suficiente para fazer a diferença, mas acaba apenas por nos consumir ainda mais tempo, sem que isso traga qualquer benefício para o nosso velhote.
Por isso, para que se mantenham elementos ativos da nossa família, pelo máximo de tempo possível, é imperativo promover o seu enriquecimento ambiental – envolvê-los em atividades regulares que preservem um bom desempenho cognitivo e lhes proporcionem simultaneamente novas experiências sociais.
Como fazer este enriquecimento ambiental?
Antes de mais, é importante perceber que todas as opções de enriquecimento devem ser adaptadas individualmente a cada sénior, tendo em conta a sua história, condição física, capacidades sensoriais e estado mental, entre outros.
Qualquer que seja a atividade praticada, há que salvaguardar as condições médicas ou comportamentais pré-existentes, tentando sempre reduzir a dor, o desconforto e o risco de um eventual trauma. Devemos lembrar-nos também que o que funciona para um certo animal pode não funcionar para outro.
Posto isto, ficam aqui alguns exemplos do que devemos fazer pelos nossos velhotes:
- Brincar – será sempre uma das melhores formas de mantermos a ligação com os nossos seniores e, mesmo que já não tenham a mesma energia, podemos optar por versões modificadas das suas brincadeiras favoritas, ou até tentar novos jogos, desde que gostem e se sintam confortáveis;
- Ensinar novos truques – afinal, nunca é tarde para lhes ensinarmos coisas novas, conseguindo, assim, garantir o estímulo mental e até desenvolver novas habilidades (não esquecer aqui o potencial das técnicas de reforço positivo);
- Desenvolver atividades sensoriais – muitas vezes, só detetamos a perda de visão e audição quando já estão numa fase mais avançada, por isso, pode ser vantajoso introduzirmos estímulos olfativos e táteis, como novos odores ou diferentes comandos de toque;
- Promover a interação com outros cães – mesmo que não brinquem tanto como antigamente, é sempre um período em que podem socializar e “relaxar” com os seus amigos de sempre, ou novos, desde que tenham o mesmo tipo de temperamento e energia;
- Recorrer ao uso de puzzles – podem ser muito úteis também em seniores, como forma de exercitar o seu cérebro e até estimular o apetite, ao descobrirem as recompensas lá colocadas.
Há algum alimento melhor para os ajudar nesta fase?
Já existem, no mercado, diversas formulações comerciais perfeitamente ajustadas às suas novas necessidades e que, de uma forma geral, tendem a ser mais apelativas, apresentando menos calorias, fontes proteicas de elevada qualidade e inclusão de nutrientes-chave para os ajudar a lidar com os desafios naturais desta fase.
Contudo, a nutrição dos nossos animais é sempre uma questão de considerável complexidade, ainda maior nesta etapa, em que diferentes processos podem surgir simultaneamente e condicionar o tipo de alimentação mais adequado. Assim, deve ser sempre muito bem discutida com o médico-veterinário que normalmente os acompanha.
Que outros cuidados devo ter?
Além dos já referidos, existem alguns ajustes, simples de serem implementados, e que em muito contribuirão para uma melhoria significativa da sua qualidade de vida:
- Optar por passeios mais curtos e frequentes;
- Usar rampas ou pequenas plataformas para que consigam subir/descer mais facilmente;
- Colocar tapetes ou passadeiras em zonas de piso escorregadio;
- Arranjar boas camas ortopédicas que lhes tragam maior conforto;
- Utilizar arneses que facilitem a sua mobilidade;
- Fazer refeições mais vezes ao dia, mas em menores quantidades;
- Usar suportes de altura regulável para os comedouros e bebedouros;
- Não introduzir alterações abruptas no ambiente ou rotina, porque podem conduzir a situações de maior stress;
- Visitar mais frequentemente o veterinário (pelo menos a cada 6 meses, e sempre que haja qualquer alteração no seu comportamento ou necessidade de reajustar alguma medicação).
Os cães mais velhotes continuam a ser os nossos fiéis e dedicados companheiros de uma vida, ainda cheios de amor e de possibilidades. Eles precisam apenas que nós, como tutores, abracemos também a responsabilidade de enriquecer esta fase, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para torná-la, efetivamente, a idade de “ouro”.
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