Se o seu gato passa a maior do tempo em casa e o único acesso à rua é através da sua janela preferida, não é necessário fazer a desparasitação interna e externa, certo? Errado! Um médico veterinário explica a importância da desparasitação e com que periodicidade o deve fazer.

Com Ricardo Almeida
Médico veterinário na VetPóvoa

Apesar de serem gatos indoor, ou seja, que passam a maior parte do tempo em casa e de não terem acesso ao exterior, também podem estar em contacto com parasitas. De que forma? Graças aos parasitas que pode trazer inadvertidamente para dentro de casa tanto no seu calçado, como na própria roupa. “É muito comum trazermos para casa ovos de parasitas nos sapatos, por exemplo, e que acabam por acabar os gatos e os próprios tutores”, explica Ricardo Almeida.

Para o médico veterinário, a sociedade dá pouca importância e até tem vindo a desvalorizar os parasitas, “parece que é algo do passado, mas na nossa prática clínica assistimos a uma realidade diferente. Apesar de os hábitos de higiene e do acesso dos animais à rua ter reduzido drasticamente a presença de parasitas, eles continuam a estar muito presentes e vão conseguindo adaptar-se à evolução e até a ganhar resistência aos desparasitantes”.

A principal preocupação dos médicos veterinários está relacionada com zoonoses, ou seja, doenças transmitidas dos animais para as pessoas e que podem ser evitadas pela desparasitação dos animais com “medicamentos com muito poucas contraindicações e que podem transmitir uma segurança extra, tanto para a saúde dos animais, como da própria família”.

Quando devo fazer a desparasitação interna?

Tal como o próprio nome indica, a desparasitação interna tem como objetivo eliminar possíveis parasitas digestivos do gato, tanto cestódeos (ténias), como nemátodos (lombrigas). Mas não nos podemos esquecer que existem parasitas intracelulares, ou seja, que vivem dentro das células sanguíneas, e que podem afetar o gato”, lembra o médico veterinário, que recomenda que a desparasitação interna deve ser feita na primeira consulta no médico veterinário, quando ainda são gatinhos, e repetida passados 15 dias.

“Em gatinhos bebés deve ser feita mensalmente até aos 6 meses de idade, e a partir daí de 3 em 3 meses”, explica Ricardo Almeida, que lembra que tanto pode ser feita em comprimido, ou em pipetas que fazem a desparasitação interna e externa.

“Depois é necessário avaliar caso a caso o risco de cada animal contrair um certo grupo de parasitas (a zona do país onde se encontra, se vai à rua ou não) e, com base nesse risco é que se avalia qual o tipo de desparasitação que se vai fazer. Aos seis meses, e sendo um gato exclusivamente indoor, a desparasitação interna deve ser feita a cada 3 meses.”

 

Quando devo fazer a desparasitação externa?

Este tipo de desparasitação tem por objetivo eliminar parasitas externos – pulgas e carraças – sendo que, ao desparasitar o seu gato, está a contribuir para a sua própria saúde, já que estes parasitas também podem passar para si. E como se multiplicam rapidamente (uma pulga fêmea adulta coloca cerca de 50 ovos por dia), pode ter rapidamente uma infestação em casa.

 gato a coçar-se

A frequência desta desparasitação vai depender “da idade do próprio gato, pois os produtos são estudados para poderem ser aplicados a partir de uma certa idade, enquanto outros estão especialmente adaptados a gatos mais velhos”, explica Ricardo Almeida.

“A partir do momento em que o gato atinja os 6 meses temos à disposição inúmeras opções, que vão depender da escolha do tutor e do risco de cada animal. Existem desparasitantes mensais, trimestrais ou coleiras, que podem tem uma validade até 8 meses e que funcionam bem em gatos, pelo que a escolha tem de ser ponderada em conjunto com o médico veterinário”.

 

Alguns gatos são alérgicos à picada da pulga e podem desenvolver problemas alérgicos, pelo que é importante que cumpra a desparasitação.

Já as carraças em gatos são menos frequentes, mas não é uma situação impossível.

"O gato pode ter tendência a apanhar carraças e isso vai certamente afetar a escolha do desparasitante a aplicar. É pouco provável que um gato indoor apanhe carraças, mas pulgas é muito frequente”, assegura Ricardo Almeida.

 

Posso aproveitar o desparasitante do cão para o gato?

A resposta é não, nem pensar!

"Este é um grande erro pois o produto para cães tem na sua composição permetrina, uma substância com efeito repelente eficaz para casos de dirofilariose e leishmaniose, mas que para os gatos é extraordinariamente lesiva e tóxica, ao ponto de lhes poder causar a morte.”

Daí a importância de falar sempre com o médico veterinário sobre a escolha do melhor desparasitante a aplicar no seu gato.

"Jamais podemos confundir um cão com um gato. Ter um gato não é propriamente ter um cão pequeno, é radicalmente diferente”.