Se tem dois ou mais gatos sabe que por vezes é difícil perceber se estão a brincar ou se a brincadeira pode evoluir para um confronto mais sério. Um médico veterinário especialista em comportamento animal revela as três regras que ajudam a identificar se são bons amigos ou se apenas partilham a mesma casa.

Com Gonçalo da Graça Pereira
Médico Veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental

Manter uma relação saudável entre dois ou mais gatos pode não ser a tarefa mais simples do mundo. Isto porque depende do temperamento de cada gato, do ambiente onde estão inseridos e da idade de cada um deles. Estes são alguns dos fatores que vão influenciar o seu relacionamento, pois tanto podem ser os melhores amigos, como podem apenas tolerar-se e partilhar a mesma casa a muito custo.


Será que o gato é um animal mais solitário? Para o médico veterinário Gonçalo da Graça Pereira tudo depende de gato para gato. “Há os que preferem viver sozinhos, mas há outros que estabelecem relações sociais desde cedo e gostam de viver em grupo, principalmente se forem elementos da própria família, como o caso de uma tia e uma sobrinha, ou uma mãe e uma filha. A convivência é sempre mais fácil porque já existe uma ligação”, explica.


Mas vai depender sobretudo “da aprendizagem que fizeram na infância, do ambiente em que estão inseridos e da disponibilidade de recursos que têm na casa, ou seja, se têm um comedouro e um bebedouro para cada um, bem como uma caixa de areia para cada gato, por exemplo”.

3 regras a observar

Para perceber qual o grau de ligação entre os seus gatos, e se pertencem ou não ao mesmo grupo social, esteja atento a estas três regras:

  1. se fizerem mutual grooming, ou seja, se se lamberem um ao outro;

  2. tocam na cabeça um do outro (gesto vulgarmente designado por dar "marradinhas");

  3. roçam-se um no outro

então não há dúvida: os seus gatos são os melhores amigos!

Alguns autores também destacam o facto de dormirem juntos, no entanto há muitos gatos que, mesmo não pertencendo ao mesmo grupo social, até podem partilhar a cama, se esta for um recurso importante por estar bem localizada, por exemplo próxima de uma janela ou de um aquecedor. O mais importante são as três regras”.


Já tenho um gato. Devo adotar outro?

Esta é a dúvida que muitos tutores colocam, principalmente quando querem arranjar companhia a um gato que vive sozinho. Mas será boa ideia? “Se estivermos a falar de um gato adulto, que está sozinho há muito tempo, o melhor será ponderar muito bem se compensa a tentativa. Isto porque nunca conseguimos perceber sem experienciar e a experiência pode ser muito traumática”, lembra Gonçalo da Graça Pereira.


É por isso que deve ponderar muito bem antes de tomar a decisão de adotar um segundo gato. “Se esta for mesmo a sua vontade, ou seja, ter mais do que um gato, mais vale adotar logo dois quando adotar o primeiro, especialmente se forem da mesma família, nomeadamente duas fêmeas do mesmo grupo social, pois a convivência vai ser mais fácil, uma vez que já existe uma ligação”.

gatos a darem patadas um ao outro

Apenas se toleram. E agora?

Se tem observado atentamente o comportamento dos seus gatos e chegou à conclusão que apenas se toleram e que dificilmente se vão tornar os melhores amigos, nem tudo está perdido e acredite que a situação é bem mais comum do que possa imaginar.
“Esta situação acontece na maioria das casas porque não foi feita uma boa introdução e os gatos acabam por viver num sistema semelhante a um ‘time-sharing’, ou seja, agora estas tu nesta divisão e agora estou eu. Até que, quando se encontram na mesma divisão, começa a surgir uma tensão visível”, explica o médico veterinário.

“O gato que se sente vítima está sempre muito atento a todos os movimentos do outro gato e acaba por não conseguir relaxar. Isso nota-se bastante numa casa em que os gatos se toleram e em que cada um faz a vida do seu lado. Quando se encontram pode haver um pico de tensão que convém controlar, pois mais tarde podem começar a brigar novamente”.
Nos momentos em que os gatos chegam a vias de facto e em que o confronto acontece, pode tentar acalmar os ânimos, desde que não seja com as próprias mãos! “Opte por encontrar uma forma de distrair o gato atacante e dirigi-lo para um brinquedo ou algo que capte a sua atenção, para que esta se desvie do outro gato”.

O ideal é tentar prevenir estes conflitos e proporcionar “locais de esconderijo e pontos de fuga, para que ambos os gatos se sintam tranquilos, como sítios altos para onde possa saltar.”

Como fomentar a amizade entre gatos

Será que há algo que os tutores possam fazer para fomentar a amizade entre gatos? Para Gonçalo da Graça Pereira, tudo depende da introdução do novo gato. “Pode ser importante recorrer ao uso de feromonas ambientais, que acalmam os gatos, bem como tentar manter os odores na casa estáveis. Isto porque os gatos vivem num mundo de odores e estes são muito importantes para eles”.
Também deve garantir que existem recursos suficientes para ambos os gatos, “para que não tenham de competir pelos recursos, nomeadamente comedouros, bebedouros e caixas de areia em quantidade suficiente.” Ou seja, se viver numa casa pequena o melhor é pensar duas vezes antes de adotar outro gato.