Este é o objetivo principal de todos os tutores: fazer o seu gato feliz! Mas será assim tão simples? Um gato que passa os dias sozinho em casa também pode ser feliz? Um especialista em comportamento animal ensina onde deve investir para aumentar o bem-estar do seu companheiro felino.
Com Gonçalo da Graça Pereira
Médico Veterinário Especialista em Medicina Comportamental
Como é o seu dia a dia habitual? Sai de casa de manhã cedo para trabalhar e só regressa ao final do dia? Ou está em regime híbrido e pode ficar alguns dias a trabalhar em casa? E o seu gato, fica sozinho a maior parte do tempo? Se está preocupado com os índices de felicidade do seu companheiro felino, agora que regressou ao trabalho presencial, saiba que existe algo que pode fazer por ele: investir em enriquecimento ambiental.
Gestão do ambiente
Na verdade, o termo enriquecimento ambiental está a cair em desuso pois “trata-se de enriquecer e parece que estamos a dar um luxo ao gato, quando não é nada disso. É dar-lhe o mínimo para que ele tenha qualidade de vida”, começa por explicar Gonçalo da Graça Pereira, médico veterinário especialista europeu em medicina comportamental.
“Hoje em dia usamos expressões como gestão do ambiente ou otimização ambiental, ou seja, aproveitamos o ambiente que a casa tem e otimizamos para o gato ter mais qualidade de vida. É uma questão de léxico, mas a mudança de palavras pode ajudar à mudança de atitude das pessoas”.
A origem do termo enriquecimento ambiental vem dos parques zoológicos, “onde os animais viviam uma vida aborrecida, tinham frustração e nas avaliações de bem-estar viam-se muitas falhas, pelo que começaram a ser criados projetos de enriquecimento ambiental em que se procurava estimular cognitivamente o animal”, explica o médico veterinário.
Enriquecimento do espaço físico
“Foram identificados cinco tipos de enriquecimento ambiental, que vão tocar uns nos outros. Ou seja, quando fazemos enriquecimento cognitivo vamos tocar no enriquecimento alimentar. Há diferentes abordagens, que vão tocar umas nas outras”, explica.
Existem várias estratégias que podem ser colocadas em prática no ambiente físico em que o animal está inserido e que podem aumentar o seu bem-estar:
- Ter um sítio onde se esconder
- Ter um sítio calmo para dormir
- Ter um sítio diferente do local de dormir onde possa descansar (pois descansam num local e dormem noutro)
- Ter um refúgio num local alto onde o gato se possa esconder em caso de necessidade ou quando se sente inseguro, seja um armário ou uma prateleira. Este deve ser um local seguro, onde o gato sabe que não vai ser importunado.
- Ter acesso a uma janela onde possa ficar exposto ao sol e onde possa ver o movimento da rua.
Estímulo cognitivo
Também convém não esquecer que os gatos são animais predadores e que precisam de ter este comportamento estimulado. Mas atenção: convém que esta estimulação não seja feita com partes do corpo dos tutores, como as mãos ou os pés. “Quando ainda são gatinhos pode ser divertido brincar com o gato enquanto este lhe tenta caçar as mãos, mas uma emboscada de um gato adulto aos seus pés já não vai ser assim tão divertido”, lembra o médico veterinário.
O que pode fazer? Dirigir este comportamento predatório transformando-o em momentos de interação com os tutores, como “brincar com cordas, com canas de pesca com brinquedos ou penas na ponta ou com pequenas bolas. São instrumentos muito úteis e que podem servir de momentos de interação com os tutores”.
Se o seu gato não liga a brincadeiras com canas de pesca ou com bolas, tem de tentar perceber o que ele gosta. “Por vezes os tutores gastam dinheiro em brinquedos, quando uma simples bola de papel amachucado ou papel de alumínio pode fazer maravilhas”.
Não se esqueça: quando estiver a brincar com o seu gato, convém deixá-lo “apanhar a presa” de vez em quando. “Este aspeto é muito importante para evitar a frustração no gato. Podemos dificultar a tarefa, mas devemos deixá-lo caçar a presa. É por isso que os laser points não são aconselhados, pois o gato tenta apanhar a luz e nunca apanha nada, o que pode frustrá-lo”.
Na natureza, os animais têm várias tentativas de caça por dia e só algumas vezes é que têm sucesso, “mas conseguem algumas vezes e por isso é importante deixar que o gato ganhe algumas vezes e até receber um biscoito de recompensa, por ter conseguido apanhar o brinquedo, já que também é um momento de jogo.”
Nas fases iniciais de introdução de jogos cognitivos, estes devem ser “fáceis senão o gato desiste e não continua. Devemos aumentar o grau de dificuldade de forma gradual”.
Sabia que pode treinar o seu gato?
Esta interação com o gato até pode fazer parte do seu treino. Sim, porque os gatos também podem ser treinados, tal como os cães. “Treinar um gato é extremamente importante, usando o reforço positivo, para ter momentos de interação positiva com os tutores. Uma das vantagens é que os gatos ficam mais sociáveis com os humanos, menos suscetíveis a stresse, estão mais estimulados cognitivamente e, sobretudo, melhora a aproximação com os tutores”, nota o especialista em comportamento animal.
“Dedicar um período do dia a brincar e treinar o gato, seja a ensinar-lhe a deitar, rebolar, é muito importante e uma das melhores formas de estimular cognitivamente o gato”.
Se não sabe avaliar o estado de felicidade do seu gato, Gonçalo da Graça Pereira lembra alguns sinais que podem denunciar que o gato não está feliz. “Há vários sinais relacionados com ansiedade, mas por vezes aparecem quando já existem problemas de comportamento”:
- Dorme muito durante o dia (mais ainda do que o habitual)
- Começa a ficar obeso
- Lambe-se demasiado ou deixa de se lamber
- Afia demasiado as unhas
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