Se já não aguenta as queixas dos vizinhos sobre o ladrar do seu cão quando fica sozinho em casa ou se tem um gato que insiste em urinar fora da caixa de areia, um especialista em comportamento animal explica o que fazer perante os principais problemas de comportamento animal e quando se justifica uma consulta com um especialista.
Com Gonçalo da Graça Pereira
Médico veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental
Como assim, um "especialista em comportamento animal"? É verdade, tal como os humanos devem procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra na presença de problemas relacionados com a saúde mental, também os cães e gatos com problemas de comportamento podem beneficiar (e muito) de uma consulta com um especialista em comportamento animal, que tem por missão analisar o que está na origem desse comportamento e assim tentar resolver o problema.
Gonçalo da Graça Pereira, médico veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental, responde a algumas das perguntas que pode ter em mente relacionadas com o comportamento do seu cão ou gato.
1. Quando devo levar o meu animal de estimação a uma consulta de comportamento animal?
"Tal como deveríamos recorrer ao psicólogo antes dos primeiros sintomas de doença, o ideal seria recorrer a um especialista em comportamento animal como forma de prevenção, ou seja, antes de haver um problema de comportamento. Ainda assim, a maioria só recorre quando já existem alterações de comportamento."
Para Gonçalo da Graça Pereira, a prevenção é muito importante.
“O ideal é levar o animal à consulta de comportamento ainda em cachorro ou gatinho porque são idades muito importantes para prevenir o desenvolvimento de doença comportamental. Da mesma forma que é normal levar o animal à consulta veterinária, também deveria ser normal levar à consulta de comportamento”.
2. Como se processa uma consulta de comportamento animal?
“A consulta começa com uma avaliação do historial do animal, em que observamos o seu comportamento através de vídeos gravados pelo tutor. Também vamos observar e analisar o historial da família em que o animal está inserido, as condições da casa e, no caso dos gatos, o ambiente onde vivem. Isto porque o tratamento vai ser feito a vários níveis, nomeadamente da casa e da relação do humano com o animal, para depois podermos tratar de acordo com a emoção que foi diagnosticada”.
Os vídeos - quer seja do cão a comer, do gato a brincar ou do tutor a preparar a comida para o animal - são muito importantes, uma vez que:
“quer a consulta seja realizada no consultório ou em casa, o animal vai dar algumas respostas que não são as habituais e as reais, uma vez que vai estar na presença do veterinário ou num local desconhecido”.
Mas isto não significa que tenha de instalar uma câmara de vídeo em casa e gravar 24 h do dia do animal, mas “pequenos trechos importantes para se conseguir fazer um diagnostico mais eficaz”, explica o especialista.
3. Quais os principais problemas de comportamento que surgem em cães e gatos?
“No caso dos cães, os dois principais problemas estão relacionados com agressividade a outras pessoas ou a outros cães e problemas com separação, ou seja, não conseguem ficar sozinhos em casa quando o tutor se ausenta”.
Se existir agressividade, “é importante compreender que não é um diagnostico, ou seja, o cão não é agressivo. A agressividade é uma resposta comportamental normal e que pode ocorrer fora do contexto adequado ou com uma resposta exacerbada”, explica Gonçalo da Graça Pereira.
“Não trato a agressividade, mas a emoção que está a causar essa manifestação comportamental. Temos de compreender porque o cão se comporta daquela forma, pois o que vamos tratar é a emoção que está subjacente. Vai ser necessário um diagnóstico emocional para compreender porque o cão apresenta aquela resposta, que habitualmente aparece secundária a medo, frustração, ansiedade ou dor. Consoante esse diagnóstico é que se vão tratar os sinais.”
Já no caso dos gatos, “os principais problemas dizem respeito a urinar fora do areão e, tal como nos cães, a casos de agressividade entre gatos ou com pessoas”.
4. Como diminuir a probabilidade de o cão desenvolver um problema relacionado com separação?
“O mais importante é ensinar o cachorro a ficar sozinho em casa. Ou seja, mesmo quando está em casa, o tutor pode colocar cachorro numa divisão à parte com um brinquedo divertido ou comida, para que se habitue a estar curtos períodos do dia sozinho. Depois, gradualmente e lentamente, pode aumentar o tempo até que fique sozinho em casa”.
E a porta da divisão deve ficar aberta ou fechada?
“Numa primeira fase deve deixar a divisão aberta e, numa segunda fase, pode experimentar fechar a porta. A ideia é que aprenda a estar com ele mesmo”.
Opte por começar o treino com “cinco minutos sozinho e aumente o tempo lentamente. O uso de feromonas apaziguadoras poderão ajudar o animal a sentir-se mais tranquilo”.
5. Como posso interagir com o meu cão/gato para evitar problemas de comportamento?
No caso dos cachorros, “uma das tarefas mais importantes é socializá-lo adequadamente para que conheça diferentes pessoas - crianças, idosos, pessoas com e sem bigode, de cadeira de rodas ou com bengala - toda uma variedade de estilos”.
Se estiver preocupado com a questão das vacinas, “pode passear com o cachorro ao colo e dê-lhe um biscoito para fazer associações positivas a tudo o que seja novo. Isto é muito importante para prevenir problemas de comportamento, tal como deixar os cachorros socializar com outros cães, sob a sua supervisão”.
No caso dos gatos, “um dos aspetos mais importantes passa por trabalhar o ambiente em que está inserido. A maioria dos gatos está em casa, pelo que é necessário dar-lhes todas as condições necessárias para criar o ambiente em que se sintam bem.
E atenção à forma como brinca com o gato: nunca com as mãos ou os pés. “Estamos a falar de um animal que é um predador e se aprende a caçar as mãos ou pés, enquanto for pequeno pode ter graça, mas com 7 ou 8 kg vai deixar de ter tanta piada”.
6. É possível treinar um gato?
“Sim, tal como é possível treinar um cão, um porco ou uma iguana, os princípios da aprendizagem são os mesmos”, assegura o especialista. “O que deve ter em conta com qualquer animal é a motivação e, neste caso, o que motiva um gato é diferente do que motiva um cão, que mais facilmente trabalha com comida.”
No gato podem ser necessários outros tipos de reforços, “como jogos, uma pena, uma bola, algo que seja entusiasmante para ele. É importante conhecer bem o animal para conseguir premiá-lo e para que trabalhe connosco. Caso goste especialmente de comida húmida, pode usar um determinado tipo de comida especificamente para os momentos de treino.”
E demora muito tempo a ensinar um gato?
“Depende. Há os que aprendem depressa porque estão muito motivados e outros em que demora a encontrar o que os motiva.”
7. O meu cão tem problemas de comportamento. Devo castrar?
“Depende, pois é necessário compreender qual o problema de comportamento. Mesmo que seja agressividade, existem situações em que poderá ajudar e outras em que poderá até piorar, pelo que é necessário fazer um diagnóstico e tentar perceber porque o animal tem esse problema e só depois tomar uma decisão”.
Quanto à necessidade de fazer medicação para controlar o comportamento,
“cada caso é um caso. Há muitas situações em que os psicofármacos vão ajudar a diminuir a emoção de proteção que o animal tem, o medo, para que consiga responder ao tratamento comportamental, que vai resolver o problema. O psicofármaco só vai ser uma ajuda para o animal responder ao tratamento”.
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